15 outubro 2007

Últimas Notícias Sobre A Casa das Pombas, Brasília.




Doações para a Comissão Legal, enviar email para: casa_das_pombas @ riseup.net

Continua a criminalização dos movimentos envolvidos na construção do Centro Cultural Casa das Pombas, em Brasíla. Há dez ativistas presas/os nas penitenciárias no DF. O Centro Cultural, que funcionava como espaço comunitário de convivência entre indivíduos e grupos autônomos de Brasília, já durava mais de um mês. Porém, no início desse semana, ocorreram duas batidas policiais no local que deteram mais de 15 ativistas, havendo várias violações dos direitos de defesa das/os mesmas/s.

Na madrugada dessa quinta-feira, dia 11, os/as detidos/as na segunda batida, acusadas/os pelo crime de formação de quadrilha pelo delegado Damião Lemos, foram encaminhados/as para penitenciárias locais, aonde passaram a noite. É de conhecimento público que os grupos que por ali circulavam tinham como postura ideológica uma crítica na relação estabelecida pelo capitalismo entre propriedade privada, crescente especulação imobiliária, e o poder de mando das corporações. O prédio em que o Centro funcionava pertencia ao Banerj, que foi recentemente comprado pelo grupo Itaú, e que estava abandonado há mais de doze anos, com dívidas acumuladas de impostos não pagos.

O grupo de advogadas/os de defesa elaborou um pedido de habeas corpus, o qual foi negado pelo juíz responsável pelo caso, Jerry A. Teixeira. Ao meio dia de hoje (11) um pedido de liberdade provisória foi encaminhado ao Tribunal de Justiça (TJ) do DF. Os movimentos estão aguardando as decisões judiciárias que serão efetivadas, no mais tardar, pela noite. A situação das/os estrangeiras/os precisa ser legalizada e para isto duas das detidas deverão pagar a quantia de mil reais cada uma.

É importante a solidariedade, tendo em vista que se trata de prisões políticas que atacam diretamente a organização de diversos movimentos sociais no Brasil. O Centro de Mídia Independente manifesta sua revolta frente à perseguição sistemática aos movimentos sociais, principalmente os que colocam em xeque a especulação imobiliária.

Ocupação é despejada e ativistas são detidas/os em Brasília.

Durante o Grito dos Excluídos desse ano, 7 de setembro, o Koletivo de Resistência Anarcopunk (krap) junto a outros grupos/indivíduos da Convergência de Grupos Autônomos do Distrito Federal (CGA-DF) ocuparam um prédio no centro de Brasília, que estava abandonado, há mais de 10 anos. O proprietário do prédio é o BANERJ(Banco do Estado do Rio de Janeiro), antigo banco brasileiro que foi comprado em 2004 pela iniciativa privada, o Banco Itaú. Dessa forma surgiu a ocupação "Casa das Pombas", dando espaço para iniciativas sociais na cidade.

Porém, na noite dessa segunda-feira, dia 8, após mais de um mês de ocupação, os ativistas foram surpreendidos por uma ação do Batalhão Tático da Polícia Militar do Distrito Federal. Armada com metralhadoras, revirando todos os móveis e apreendendo materiais impressos, os policiais chegaram a afirmar que encontraram drogas. Cinco ativistas latino-americanas foram detidos/as e levados/as para abrir inquérito na sede da PF. O único ativista brasileiro que estava na casa no momento foi encaminhado para uma delegacia da Polícia Civil e também interrogado. Durante a interrogatório, o delegado repetiu diversas vezes que o antigo proprietário, o banco BANERJ, estava entrando com pedido de reintegração de posse.

Na madrugada dessa terça-feira, às 2h da manhã, todos as/os ativistas já haviam sido liberadas/os e numa assembléia extraordinária resolveram resistir no local até que o pedido de reintegração chegasse oficialmente, com a disposição de levar a luta no campo jurídico. Alguns ativistas permaneceram no local para passar a noite. Porém, na manhã dessa terça-feira (9), às 10h, a PF e a Polícia Civil invadiram o local, ameaçaram com metralhadoras as/os ativistas que estavam do lado de fora e mantiveram por mais de uma hora as/os dez moradores lá dentro. Durante a tarde, o delegado da Polícia Civil afirmou que as pessoas responderão por crime de formação de quadrilha e esbulho possessório.

Esta ocupação nasceu de uma luta histórica do movimento autônomo do DF em transformar espaços vazios em lugares vivos e ativos. O local já abrigou reunião de diversos grupos, dentre várias outras atividades, e se tornou um legítimo Centro sócio-cultural.

Convocatória Aberta às Pessoas Comuns.

Encantamento de nossas vidas.
A todas as pessoas companheiras, que dividem conosco, além de vidas cinzas, as lutas para ocuparmos e colorirmos o descaso imposto pela ganância urbana do lucro, da especulação de poucos sobre muitos.
A todas que partilham dos sonhos cotidianos de uma vida com liberdade e alegre de quem não quer acumular capital e resiste contra ele.
Amigas, não é de hoje que as existências iniciam e acabam, mesmo quando nos seus momentos de maior intensidade, em preto e branco – como sem significado, roubadas, exploradas -, inseridas como estão num ambiente descolorido massificador, cheio de concreto, de aço, de imponentes edifícios que arranham o céu, além de muita competição de mercado e de especulação de coisas - sim, coisas - móveis - como nós – e imóveis. Estas coisas “imóveis”, a serem ocupadas pelo povo, construídas que foram por esse mesmo povo, deveriam ser ocupadas, tratadas, reformadas, trocadas, concedidas, pintadas, conservadas, ressignificadas por ele. Não é isso? Na realidade e no tempo atuais, ou de séculos atrás, não é. O que a gente vê é a grande e fria distância entre nós e aquilo que deveria ser nosso espaço. Ora, porque isso acontece? Acontece porque as forças dominantes, dos ricos, têm seus valores, sua cultura: tem mais valor o objeto a ser vendido, o lucro, do que as pessoas. Tudo é visto como “coisa”, inclusive as pessoas, levando as outras “coisas” - imóveis -, que não são autônomas, a serem mais bem tratadas do que as pessoas. O lucro, e assim, a mercadoria, e a propriedade privada, importa mais do que as pessoas. O Estado e o Capital deixam claro: os espaços não podem ser populares, da sociedade, usados, ressignificados pela gente, e o pior, depois de construídas por nós mesmas, pessoas comuns! Então, por argumento de garantir a especulação ou manter o dever sagrado da propriedade privada, o povo é duplamente excluído de espaços que deveriam ser só seus e da natureza. A terra é tirada dos camponeses, o teto é distante dos trabalhadores urbanos.
Muitas são aquelas, porém, que não se calam, não se rendem perante as forças desta ordem vigente. Seja com os “kraakings” autonomistas da Europa de 1970, com as ocupações de terra de movimentos de massa como o M.S.T., ou urbanas do M.T.S.T., com os centros sociais/culturais autogeridos por jovens subversivos mundo afora, inclusive aqui no Brasil, são grandes a resistência e a transformação global ou localmente. Chega a ser alarmante constatar que cerca de 34 milhões de pessoas no Brasil estão na condição subumana de “sem teto” (dado da ONU)! No D.F., o G.D.F. realizou vários despejos de famílias de ocupações populares este ano. Em contra partida, é marcante a luta da companheirada do M.S.T. e do M.T.D. e nós do K.R. (A). P., Koletivo de Resistência AnarcoPunk, queremos repetir experiências nossas que vão nesse sentido. Experiências de resistência, de uma outra cultura, de contracultura, por liberdade, pela “autogestão de nossas próprias vidas”, como reclamamos e reclamávamos à época das eleições no ano passado. Experiências de ousar contra este sistema de “coisas” que aí está.
No final de 2006, em conjunto com várias companheiras de luta autônoma, fizemos algo que há tanto reclamávamos: uma ocupação! Num bairro popular, a ocupação teve forte apoio comunitário, pena que sofremos despejo e repressão policial no mesmo dia. Ultimamente, estivemos confabulando para tentar outra vez, pensando que o melhor meio para chegarmos a esse fim é a articulação conjunta que houve no passado. Por isso, e entendendo que solidariedade e apoio mútuo são mais do que palavras, até mais do que perspectivas, são práticas de contracultura, e de autonomia, de autogestão, queremos, como Koletivo de Resistência AnarcoPunk que somos, convocar quem possa interessar, indivíduos, coletivos, movimentos, a se solidarizar e construir em conjunto um projeto, com fins socioculturais de ocupação de espaço em situação de abandono, aqui no Distrito Federal. Entretanto, já iniciamos esse processo de organização há algum tempo. Queremos que tal ousada iniciativa – mais uma, e não vamos desistir – possa desembocar num centro social autogerido, a exemplo dos que já existem pelo país e pelo mundo afora, com horizontalidade e independência. Esperamos que já a partir de agora se dêem reuniões ou encontros com mais pessoas. Fiquem tod@s atent@s a qualquer chamado para tanto. Qualquer outra ajuda, como doação de utensílios, seria bem-vinda.
É com prazer que o K.R. (A). P. convidamos você a se integrar, a ajudar nessa empreitada rebelde e ousada, porém bem modesta, com base em nossos princípios e nas experiências, já de alguma data, que temos acumulado. Os critérios de entrada nessa movida são simples: basta querer se dispor a construir um outro espaço, outro mundo, de resistência, e concordar que este modelo de mundo imobiliário que está aí, que imobiliza a gente, é injusto e não contempla as demandas de vida dos indivíduos, de autonomia e de horizontalidade.
Achamos que “carregamos um mundo novo em nossos corações” e podemos construí-lo de fato e desde já, com senso de modéstia e de coletividade. “Se não for agora, quando? Se não formos nós, quem?”. Reforçamos o convite, um pedido de solidariedade e apoio mútuo está feito.
Estimamos força a todos os projetos companheiros de luta.

Um despejo, outra ocupação!
Um espaço ocupado é um espaço encantado!
Comunicação, corpos, mobilidade, espaço livres!
Liberdade!
Koletivo de Resistência AnarcoPunk – D.F..
Agosto de 2007.