31 julho 2007

Relato sobre a squat N4, okupada em 4 de novembro de 2006, Porto Alegre.



Vemos a squat, antes de tudo, como uma experiência e prática de anarkismo e, justamente por isso, queremos relatar aqui sobre as transformações, as idéias, os conflitos, as dúvidas.
Construímos, recentemente, um forno de barro e também uma composteira que vai transformar em adubo nosso lixo orgânico. Queremos ainda construir um banheiro seco, que não contamina e economiza litros e litros de água potável. Os banheiros da kasa foram depredados, não há saídas de esgoto que funcionem e água encanada, mas algo além disso nos motiva à construir um banheiro alternativo.


Devido a um incêndio que consumiu boa parte da infra-estrutura - principalmente a de madeira - temos apenas dois cômodos com telhado, onde dormimos atualmente. Queremos construir telhados e peças inteiras utilizando barro, bambu, garrafas, caixas de leite e outras formas alternativas que sejam mais ecológicas, inteligentes e econômicas. Essa carência nos fez começar do zero, porém, graças a isso, podemos questionar e escolher como e para que construir; podemos trocar conhecimentos práticos e desenvolver e incentivar essas alternativas. Pensamos em como seria recompensador ver os muitos barracos que nos cercam cobertos de barro, trabalhando como isolantes térmicos, ou até mesmo com banheiros secos deixando clara a independência de um sistema público de saneamento básico que tarda em chegar.

Xs amigxs mais pessimistas falam em algo em torno de vinte anos para deixar a kasa pronta, xs mais positivxs, dez. Porém, “pronto” quer dizer muitas coisas e, para nós, quase como uma metáfora para a vida, estar pronto é um estágio que nunca alcançamos, porque o real objetivo é estar em constante transformação, revolução. Entretanto, nos parece obvio que mais cômodos com telhado são necessários.

Outra coisa que viemos fazendo é o cadastro de nossos livros, zines e outras publicações para que possamos disponibilizar-los para leitura e, talvez, empréstimo. Além do conteúdo libertário, pensamos também em focar em livros didáticos. Ocasionalmente tem acontecido uma oficina de wen-do – defesa pessoal feminina(sta) – que queremos ampliar, e tornar semanal. Planejam-se para breve, oficinas de teatro de rua, de plantas medicinais, grupos de estudos...
Okupar e resistir têm sido para nós, viver em comunidade, em imersão em um micro-ambiente onde praticamos e desenvolvemos métodos para vivermos mais felizes e mais livres. Sem hierarquias inquestionáveis, sem autoridades inquestionáveis, sem regras impostas. Horizontal, cooperativa, autogestionada. Mas não é só isso: acreditamos que esses princípios deveriam ser universais e lutaremos por isso. Lutaremos para questionar e romper com o conjunto de valores éticos e morais, condutas e verdades, hábitos, costumes e tradições, a cultura: que teima em controlar nossas vidas e torná-la uma silhueta. Lutaremos para ser uma ameaça.
Retomar a medicina, a arquitetura, a alimentação, o ócio, a cultura, a sabedoria. A contracultura, a contramedicina, a contraarquitetura. Retomar e Redistribuir.

Texto por N4

www.squatn4.blogspot.com
squatn4@hotmail.com

Cx postal 8593
Ag. Tristeza
Cep: 91901-970
POA -RS

17 julho 2007

"façamos dos espaços vazios, cheios de vida novamente!"


Recentemente tivemos a experiência de ocupar uma casa na região metropolitana de Porto Alegre, na cidadezinha de São Leolpoldo. A nescessidade de um espaço físico para algumas atividades do coletivo Mentes Plurais, fez buscarmos esse lugar. Então, depois de uma curta pesquisa de casas disponíveis resolvemos ocupar no dia 20 de Maio de 2007. Foi bem tranquilo o dia em que entramos. A casa que antes era um lugar sujo, que servia de “mocó” e não cumpria sua função social agora ganha vida e coloridas cores. Nos dias que seguiram houve algumas complicações com os antigos "moradores", depêndentes químicos, pessoas que realmente não tinham lugar algum para morar, um erro nosso não ter tentado um diálogo com essas pessoas. Quando entraram ficaram do outro lado da casa, que era dividida ao meio por uma parede. Nós muito assustad@s resolvemos não falar nada.

A casa situava-se no centro de São Leolpoldo, do lado da estação de trem. Era um espaço bem grande, uma casa dividida em duas. Tínhamos diversos sonhos ali, hortas com os mais variados legumes, biblioteca comunitária, realização de oficinas, encontros de malabares. Nosso maior objetivo era que ali fosse um grande polo de difusão do anarquismo e da revolta. Não queríamos cometer o mesmo “erro” que muitas outras okupas punks cometem, em ocupar e apenas morar, nossos sonhos eram além. Nossa vontade era que o espaço fosse frequentado pelo mais variados tipos de pessoas, desde o tiozinho que cata latas até o artista de rua. Não queríamos que a casa tivesse um fim em si mesmo, mas que fosse um dos meios ao qual poderíamos estar atuando.

Seis dias antes de completar um mês fomos surpreendidos com o desalojo, que já era esperado. Alguns dias antes fomos até a prefeitura verificar novamente como andavam as dívidas da casa, pois suspeitávamos de que a antiga proprietária pudesse nos tirar dali. E havia um IPTU pago recentemente, isso nos deixou apreensiv@s e com medo, mas não desistimos. Aconteceu um pequeno evento com a mostra de um filme muito interessante, “A Tornallion” sobre uma comunidade agrícola de Valência que lutava para não ser desalojada devido a construção de um porto marítimo. Quando faltavam 5 dias para completar um mês que estávamos ali recebemos a visita de um advogado querendo que saíssemos, sem revelar quem o mandou, disse que a casa fora comprada por alguém e que ali viraria um estacionamento. No dia seguinte, pela manhã, quando ainda estávamos dormindo, ele aperceu com um caminhão de mudanças e com mais alguns capangas. Resolvemos questioná-lo pois não havia pedido de reintegração de posse, o questionamento era viável, sem aquilo não poderíamos sair. Ele então ameaçou chamar a polícia, para que nossos nomes não fossem registrados, resolvemos sair.

Essa foi uma experiência muito boa, apesar dos erros cometidos, talvez se tivéssemos conversado e planejado um pouco mais antes de ocupar poderia ter sido diferente. Fica aqui minha força à tod@s @s compas que lutam para que se seus sonhos se tornem realidade. Que surjam cada vez mais ocupações pelo resto do mundo, façamos dos espaços vazios, cheios de vida novamente! Muita luta à tod@s! Coletividade Sempre!

por: Kassandra

Coletivo Mentes Plurais

caixa postal: 17018 cep:90010-970

Porto Alegre-R$